quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Na estrada

HR Fotografias




À NININHA

Sem mais esperas, dispensando ritos e espaços consagrados
Inauguramos os calendários libertinos dos meus tempos.
Assistência, cruz vermelha no branco roto e a estrada em pó;
O sol pendente, o pneu que não ia e a vida que arrebentou,
Porque quis assim e ali.
Mãos de mulheres a me receberem;
Mãos de madrinha a me iniciarem ali, na estrada que mais ia
E
Mais tarde, no revoar de outros almanaques das horas,
Mãos e boca de madrinha a me abençoarem
“Deus te faça feliz!”
Sentença de quem tem intimidade com Ele.
E
Deus, grande e macio como trovão de janeiro,
Obedeceu à Madrinha.
Depois, engolidas sem mastigado pelos tempos que vão
Aceirando outras estradas,
Nossas mãos se perdiam
Enquanto se buscavam,
Mas Deus ainda recebia o recado e cumpria:
“Deus te faça feliz!"
E fez.
E faz.
Era segunda, sem o velho pau-de-arara, o leite derramando na curva,
Bidê para olhar espantada, nem o vestido de lacinhos coloridos
Agarrado pelo vento.
Outra segunda, sem a bodega azul celeste, nem a vitamina de banana;
Eram as mãos,
Buscando e entregando-se às minhas num laço forte e transcendente.
Eram as mãos e o lábio
Bendizendo meu ser -
Tão menor que o primeiro -
Desde a estrada que nasceu
E para além da que finda,
Pois nunca rematará.
“Deus te faça feliz!”

Pók Ribeiro


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