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Súbito
o silêncio!!
Aquele
que, lentamente, dilacera a alma e vai envenenando cada artéria, destroçando as
vísceras. Depois, um turbilhão em ascendência: o grito engasgado, a pele em repulsa,
o nojo, a ânsia... A infeliz e eviterna certeza de que ser mulher dói, nessa
nossa sociedade tão obtusamente patriarcal.
33
homens e seu poder fálico. 33 homens e sua dominação sobre o corpo e a vida da
mulher/menina. 33 homens e a reprodução do que pensam sobre nós. 33 homens e o
escancaramento da perversidade machista, opressora e mortal. Porém, não foram apenas os 33, a eles se
somaram, ferozmente, outros tantos de igual pensamento, cuspindo ódio,
crueldade e falta de conhecimento pelas redes sociais.
E
os destroços de minha alma, o que ainda restava de estômago e ar nas veias se
esvai, vou morrendo presa à angustia e a revolta. Eu não sinto a dor, o medo, o
nojo da menina estuprada - apenas imagino - mas sinto um desespero que me toma
por completa. Tenho raiva e convalesço.
E
vejo, descrente, comentários que atacam as feministas, que zombam de sua luta e
manifesto, que questionam equivocadamente porque elas não “protegeram” essa
menina, porque “não estavam lá”. Sequer sabem o que é o feminismo; criam uma
visão estereotipada e não se permitem aprender, pesquisar. Eles se tornam autossuficientes
por terem um falo. Fico zonza... Noutro canto alguém culpabiliza a vítima, suas
roupas, seu modo de viver, sua “prematura” vida sexual e outros disparates. Há
ainda quem defenda a castração química para o estuprador, como acudiu um dia um
abjeto Senhor que, outrora, também disse que não estupraria a colega
parlamentar, porque ela não merecia e que, recentemente, homenageou um torturador e estuprador. Outros tantos absurdos se insurgem... Desisto
de pensar. Está extremamente difícil viver por aqui. Parem! Não importa o
ponto, eu descerei!
Por
favor, acordem!!! Não basta punir os estupradores, no caso destes serem presos.
Não! Não adiantará castrá-los. Exterminá-los. Eles já terão estuprado, assediado,
torturado, ameaçado, antes disso. O mal às mulheres já estará feito. É
necessário sim, falar sobre machismo, mostrar que ele mata!! É fundamental
fortalecer o feminismo, ser “Maria Passeata” sim, porque o debate, a
conscientização, o grito, a denúncia podem evitar que outros tantos deuses
fálicos destruam vidas. Se o feminismo te incomoda, se as imagens e textões,
sobre o assunto, também lhe incomodam, você precisa reavaliar-se urgentemente e,
principalmente, ler sobre o tema; não as leituras de posts do facebook, ou as
rasas descrições do Wikipédia, digo a leitura que engrandece, acrescenta,
questiona, provoca.
O
que dizer às meninas com as quais convivo todos os dias, que são assediadas no
ônibus, na fila do lanche, nos corredores/salas da escola, na rua, que já podem
ter sido vítimas de assédio/violência sexual em casa? Fico engasgada mais uma
vez... Meninas, lutemos!! Denunciem! Gritem! A culpa não é de vocês, nunca! O
corpo é seu!
E
aos meninos? Meus queridos, se reavaliem, respeitem, evitem reproduzir as
práticas ancestrais que tratam a mulher como objeto, não exponham suas intimidades, não compartilhem imagens/vídeos/boatos, não avaliem a mulher pelo corpo, roupa, batom, jeito solto ou quieto de ser. Sejam parceiros na luta
pela liberdade e vida da mulher.
Por
fim, cá da minha ânsia e tristeza, percebo que além de respeito ao corpo, ao
modo de vida, à liberdade da mulher, necessitamos de leitura e interpretação
textual para compreender elementos essenciais como: liberdade, igualdade,
feminismo, “cultura do estupro”, machismo, patriarcado, opressão, etc.. O
conhecimento também liberta e salva!!
Uma
fala de Rosa Luxemburgo pode abrir o caminho para o aprofundamento, no tema:
“Por
um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente
livres.”
Rosa Luxemburgo (1871-1919)
De cá, peço ao Universo que apague as marcas da alma
daquela menina (e de tantas mulheres); que abafe os sons grotescos que possam
povoar seus ouvidos; que lhe devolva a vontade de viver e ser livre.
Eu choro...
Erika Pók Ribeiro
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