quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Hoje, mais um silêncio de mulher...



(ACERVO EX-ALUN@S EREMCC)


Hoje, enquanto a vida pegava ônibus, em seu ponto sem cobertura, e seguia dormente para mais um livro de ponto, centenas de mulheres eram espancadas, violentadas, ultrajadas. Enquanto em mim, um grito engasgado soluçava revoltado, outras mulheres morriam de uma morte não prevista nas Escrituras.

Hoje, enquanto a Arte apanhava por não ser bela, recatada e do lar, uma menina atleta não foi à final do torneio de vôlei. Ela não gritou, não deu cortadas magníficas, não xingou a bola caída além da linha; seu suor não orvalhou o chão da quadra, sua força não fez pontos de saque, não vibrou escandalosamente com mais um troféu. Nem na arquibancada ela pôde estar.

A menina – e tantas outras – foi arrancada da vida pelo poderio masculino de arma em punho e misoginia latejando nas veias. A mão que decidiu pelo seu fim é mão de homem. A mesma mão que aponta, toca sem permissão, abafa a fala e o grito, espanca, esgana e, em seguida, lavra alvará de soltura.  À menina, foi negado o sopro da vida, por um homem – cidadão de bem- , cujo ofício era proteger a sociedade e garantir a ordem pública.

Hoje, esse meu grito não dorme. Nos dias que seguirão, também ele será insone e se avolumará. Meu grito pela menina, pelas outras, por mim, por aquelas que ainda virão a esse mundo destroçador de mulheres, não calará!

Hoje, Katharine gritou em mim:
                                JUSTIÇA!
                                RESPEITO!


Pók Ribeiro


Poeta, professora, cronista, aprendiz de fotógrafa, gente que sente- e muito!

Um comentário:

  1. Que texto! Expressa tudo que sinto. A revolta que tenho em mim pelo que aconteceu com Katarine, e pelo que acontece com tantas outras, só cresce!

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