Ensaio Frida Khalo - Heitor Rodrigues Fotografia- https://www.facebook.com/heitorrodriguesfotografias/?fref=ts |
De repente, no girar das engrenagens que arrastam a vida, se percebe que os acontecimentos, quase sempre, independem dos nossos desejos. A vida tem seu caminho e calendário próprio, que não se encaixa nos fluxogramas que traçamos como metas incontestáveis. A vida segue, quer você queira parar para descansar ou correr para chegar mais cedo; a vida vai adiante, no tempo dela.
Feita a constatação - a tempo - há sempre escolhas: seguir, tão leve e livre como a vida é, sendo como quer e pode ser, ou amuar-se num ponto, insistindo em ser burocrático, lamentando os machucados e os voos não alçados.
Por vezes, a vida, imperiosa que é, te sacode do voo que você já rumou; mutila alguma asa, emudece um verso e finca a afiada dor. Não que ela queira te tirar o sonho, a liberdade ou o ar. O que a vida quer é que você seja capaz de reinventar-se, de criar novas alternativas e rotas de voo. A vida nos coloca à prova, para que possamos plantar novas mudas, regar as flores do olhar e, assim, fortalecermos a alma, mas sem perdermos a poesia de cada dia. A vida quer que a gente viva, de fato.
Senti - e ainda sinto - o corte afiado de sua lâmina rasgando-me o riso, fazendo tempestade no olhar, amordaçando o verso leve que morava aqui. Senti - e muito. Senti o escorrer dela pelas pernas, o fugir da alma, a rebeldia e amargor do verso, o ocultar sombrio do riso. Senti muito. Senti tanto até perceber o que a vida queria de mim.
A vida quer que eu ensaie novos voos, mesmo com a asa quebrada; que plante outros versos, noutros ninhos; que eu desenhe o sorriso noutros rostos, mesmo que ele não esteja em mim. A vida quer que eu teime. De teimosa que sou, resolvi viver, sendo como quero e posso ser.
Erika Pók Ribeiro
Poeta, Vagalume, Professora, Aprendiz de fotógrafa, Ensaista de pássaro, Gente que sente (e muito).
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