sexta-feira, 14 de julho de 2017

Aceita um café?

          
Arquivo Pók Ribeiro
           É imperativo - como essa frase - que respeitemos o outro na sua totalidade, sobretudo, naquilo que nele nos parece destoante ou desagradável. É importante compreendermos, de fato, que o outro – assim como nós - é um universo particularíssimo, cheio de estranhices que o tornam singular, e por mais que saibamos dele, nunca será tudo [melhor assim].

                Empatia é mais que o simplório conceito de “colocar-se no lugar do outro”; é deixar que o outro seja, como ele prefere ou como pode, diante das circunstâncias da vida, sem cobrar-lhe postura distinta, reação, adequação.

               Beira à violência escolher “o melhor” para outrem, visto que cerceia a sua liberdade de ser e, inclusive, de não ser. Constrangê-lo a experimentar o que não lhe apetece, a sentir o que não deseja, a sorrir quando a alma chora, a esboçar satisfação no desespero, cobrar-lhe leveza na carceragem das convenções é violência, mesmo que o animus nunca seja esse, pois aquilo que me adoça a boca pode ser fel a quem me cerca.

                 Vivemos numa estranha conjuntura que pretende igualar (re)ações, preferências, gestos e até discursos, ao passo que desiguala, miseravelmente, os que ousam diferir dos ditames mofadores de riso, esses velhos estilingues camuflados de gentileza que visam nos tornar inexpressivos seres seguindo a massa. Cá, do meu infinito, particular em verdade e expressividade poética, amargo ante as investidas externas em tornarem-me mais uma; mais doce, mais riso ...Sem nenhuma vocação para Assum Preto, eu vos pergunto:

                - O que é que eu faço com essa dor, aqui?! Você não vai querê-la, porque ela é minha!

              - E o que é que eu faço com esse grito todo?! Não vou abafa-lo, pois ele diz de minha alma!

            É vital respeitarmos as normalidade, loucuras, extravagâncias ou reclusagens do outro, sem julgamentos kafkanianos. A liberdade é a essência maior de todo indivíduo, sem ela somos apenas espectros, vagas nuances de um ser que nunca existirá, em plenitude. Deixa que o outro seja como ele melhor quiser; a ti cabe ser o melhor que decidires.

               Eu curto um bom café forte, bem quente e amargo.
               O que você prefere?


Pók Ribeiro
            

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