terça-feira, 24 de novembro de 2015

Da agradável necessidade de estar só

(A árvore que dá versos)

De súbito, estar só, parece a maior de todas as penúrias a que um indivíduo está fadado. E não é!  Nunca estaremos - de fato- sós, porque em nosso íntimo latejam todos os gritos, as gargalhadas, os choros e as retóricas que não puderam ser libertas. Pululam os fantasmas, nossos eus, ainda em transe, e toda sorte de viajante que em nós repousa.

Em um mundo onde a conexão diuturna virou artigo de primeira necessidade e, estar feliz e bem disposto, nas redes sociais, é mais urgente que ser feliz na chuva ou no sol, o silêncio e o estar só foram condenados, sem chance de contraditório ou legítima defesa.  Certamente, o que incomoda e amedronta não são as ausências de corpos e vozes externas, nem tampouco os espaços da casa repletos de ninguém e paz. O que atemoriza é o contato íntimo e privado com si mesmo; é encarar-se despido de toda veste ou maquiagem e, mais ainda, é ouvir os barulhos impetuosos do nosso silêncio. Aquele que não convive bem com seus silêncios tagarelas e os vazios repletos de sua vida, não saberá ser livre e pleno na totalidade esmagante.

Há que se cultuar os espaços ocos de nossos ninhos, pois é lá, que revolta e imperiosa, pousa a poesia nossa de cada dia. Há, mais que tudo, que se respeitar os vazios dos ninhos outros, as tramelinhas que se fecham para o mundo, mas que abrem-se para o infinito de seus pássaros. Há que se esperar menos das asas alheias, mas doar a sua, para qualquer estepe ou repouso. Quem valoriza o seu próprio silêncio, saberá ouvir todas as vozes que ecoam no silêncio do outro.

Saber morar em si mesmo, dividir os espaços apertados da alma com a multiplicidade latente de eus que abrigamos e, sobretudo, alegrar-se com os vazios, abraçar as ausências, deixando que elas ventilem essa lotação interior, é ver brotar as asas que tanto se busca. Deixar o silêncio e a solidão escolhida, falarem em nós, é o exercício mais pleno do voo, é o contato mais doce e sublime com o azul que perfuma o Universo.


Erika Pók Ribeiro

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