(A árvore que dá versos) |
De súbito, estar
só, parece a maior de todas as penúrias a que um indivíduo está fadado. E não
é! Nunca estaremos - de fato- sós,
porque em nosso íntimo latejam todos os gritos, as gargalhadas, os choros e as
retóricas que não puderam ser libertas. Pululam os fantasmas, nossos eus, ainda em transe, e toda sorte de
viajante que em nós repousa.
Em um mundo onde
a conexão diuturna virou artigo de primeira necessidade e, estar feliz e bem
disposto, nas redes sociais, é mais urgente que ser feliz na chuva ou no sol, o
silêncio e o estar só foram
condenados, sem chance de contraditório ou legítima defesa. Certamente, o que incomoda e amedronta não
são as ausências de corpos e vozes externas, nem tampouco os espaços da casa
repletos de ninguém e paz. O que atemoriza é o contato íntimo e privado com si
mesmo; é encarar-se despido de toda veste ou maquiagem e, mais ainda, é ouvir
os barulhos impetuosos do nosso silêncio. Aquele que não convive bem com seus
silêncios tagarelas e os vazios repletos de sua vida, não saberá ser livre e
pleno na totalidade esmagante.
Há que se
cultuar os espaços ocos de nossos ninhos, pois é lá, que revolta e imperiosa,
pousa a poesia nossa de cada dia. Há, mais que tudo, que se respeitar os vazios
dos ninhos outros, as tramelinhas que se fecham para o mundo, mas que abrem-se
para o infinito de seus pássaros. Há que se esperar menos das asas alheias, mas
doar a sua, para qualquer estepe ou repouso. Quem valoriza o seu próprio silêncio,
saberá ouvir todas as vozes que ecoam no silêncio do outro.
Saber morar em
si mesmo, dividir os espaços apertados da alma com a multiplicidade latente de eus que abrigamos e, sobretudo,
alegrar-se com os vazios, abraçar as ausências, deixando que elas ventilem essa
lotação interior, é ver brotar as asas que tanto se busca. Deixar o silêncio e
a solidão escolhida, falarem em nós, é o exercício mais pleno do voo, é o
contato mais doce e sublime com o azul que perfuma o Universo.
Erika Pók
Ribeiro
#PERFEITO
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