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Quando em vez, é urgente revisitar meu verdadeiro eu que sucumbe, encolhido por trás das sombras dos outros eus que o mundo me impele ser. É preciso dar-lhe um caldo daqueles de ressuscitação, um mingau d'água de curar enxaquecas infindas e trazer-lhe ao sol para afastar o bolor. Vez ou outra, preciso colocar meus pés descalços naquele pedregulho da estrada, pra eu não esquecer quem sou. Pra não esquecer onde me apertam os calos.
É necessário executar as manobras de ressuscitação naquele eu que, aflito, por anos suplicou um fiapo de ar, uma fresta da janela, um rasgo da telha para ver o luar transitar em seu ciclo penitencioso. É preciso coragem para sermos o espelho de nós mesmos, o menino de recado daquelas vontades que por necessidade das horas passadas se calou. É, vez ou outra, preciso deitar meu corpo sobre o chão solitário do terreiro e deixar que percorram pelos poros entupidos do sebo - de tanto correr para lugar nenhum - todas as vozes que me ensinaram a falar, que me estimularam a gritar, que me deram os verbos da minha memória e todos os versos beligerantes da minha história.
É preciso deixar a cabeça ao sol, ao dispor dos ventos e da poeira que encarde as paredes. Cabeça livre, mas nunca à prêmio. Não sou boa em rifas. Cabeça quarando em sábado para, quem sabe, desencardir os medos, desmanchar as nódoas da dor em carmim, secar as cascas das feridas renitentes; clarear as ideias e deixá-las secarem ao vento. Ideias alvas para eu relembrar que sou só! No pó desse chão que sustentou meus passos, sei que sou só.
É, eu preciso voltar aos chãos, aos céus, aos caos de mim mesma para eu não esquecer quem sou, quem são os meus e quais são minhas lutas.
Eu sou do vento; é o que me prende!
Não conto os anos; eu sou do vento - não tenho tempo!
Pók Ribeiro
É, eu preciso voltar aos chãos, aos céus, aos caos de mim mesma para eu não esquecer quem sou, quem são os meus e quais são minhas lutas.
Eu sou do vento; é o que me prende!
Não conto os anos; eu sou do vento - não tenho tempo!
Pók Ribeiro
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