Lapinha - Arquivo pessoal |
Nesse estrebuchar dos tempos, liame infinito de prelúdio e saudade, dou-me ao direito de desanimar e chorar os umbus que a borboleta chupou antes de mim. Deixo-me, inteira, à liberdade do silêncio e das ausências por pura falta de ânimo e de fé nas pessoas sem fé. (E?)
Depois de tantos sapatinhos na janela, de pés crescidos e cansados, de caminhos trocados e casas mudadas, sem janela e sem vontade... Depois de portas silenciadas ao esfriar das cinzas do velho fogão de barro, já não escuto o badalar de qualquer sino - mudo, nem as cantigas desafinadas e risonhas que faziam belas as noites.
Mudamos.
E agora, sob o manto-sangue da luta dou-me à prerrogativa de estar em silêncio e comunhão com os borregos do presépio que se desenha, desde que a casa sorria e a ovelha sem juízo pelejava pra devorar o verde plástico da árvore destinada ao Natal.
Dou-me em presente a mim, banhada em alecrim da Lagoinha e despida de qualquer sentimento amargo ou que me tire o ar; já me bastam as insuficiências respiratórias que as poeiras dos calendários me deram.
Dou-me ao Universo, sem os rótulos nem medidas impostas pelas agências e institutos reguladores. Quem quiser que se autorregule. Dou-me assim, despida, carregando, apenas, as marcas que ele próprio me deu a cada riso, choro ou queda. Marcas de mim e das que em mim viveram - e vivem.
Dou-me inteira, com essa alma ainda assim remendada e os joelhos rôtos da teima. Assim livre, assim imperfeita, pronta pro refazimento de todo dia. Não dou-me à liquidação de ser tão somente hoje; serei sempre e Ele em mim.
Assim seja(mos)!
Assim seja(mos)!
Pók Ribeiro
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