Pau Brasil - Tarsila do Amaral - 1924 |
Quando os homens chegaram
- alvos e másculos que eles só -
O indígena sabia que não era bom,
mas espelhos e balangandãs maquiaram
aquelas faces do mal.
Quando os Homens devastaram a terra-mãe,
buscando o vermelho valoroso daquele pau,
O indígena sabia que era mal
e dançou toré
para expulsar Jurupari,
Mas aqueles homens brancos e viris
catequizaram até os demônios do indígena,
e levaram outros paus,
mais vermelhos
e de todas cores,
até que o verde se derrubou.
O filho daqueles homens chegou
- alvo e mau que ele só -
O indígena,
O negro,
A mulher,
O povo liberto
sabe que ele não é bom,
mas a fumaça da ignorância,
e os Juruparis que repousavam noutro povo,
desmascararam suas faces do mal.
E parte desse povo, que também era mal,
dançou passinho
para louvar a guinada do Mestre Supremo do Mal.
Que Tupã nos Salve
e juntos, num Atiaru, afugentemos o mal
e saudemos
a liberdade de sermos múltiplos,
vermelhos desse Pau-Brasil que nos fez.
Pók Ribeiro
Muirapiranga: uma outra denominação para a árvore Pau-Brasil;
Toré: ritual sagrado indígena que mistura dança, religião, luta e brincadeira, onde os participantes buscam integração com as forças da natureza;
Jurupari: demônio, na Mitologia indígena;
Atiaru: dança executada para afugentar os maus espíritos e chamar os bons.
Nenhum comentário:
Postar um comentário