Foto minha, enquanto posso ser eu. |
Tenho pensado nos silêncios construídos, por anos, e agora inaugurados com pompa; nas palavras desapropriadas de si mesmas e desalojadas de línguas sedentas por existir.
As palavras tiradas de seu lugar de origem,arrancadas da voz-existência de quem é seu... E do silêncio imposto, do não dito compulsório, brotam as fumaças que ocultam a identidade, que atravessam a legitimidade daquelas/es que criam palavras. A violação da voz, tentáculo da violência simbólica da qual nos fala Bourdieu, acaba por gerar sujeitos assujeitados¹, que não se posicionam, não produzem sentidos, visto que são bombardeados por diversos discursos, sobretudo os dominantes, e por eles posicionados dentro de uma estrutura social opressora e excludente.
Há nesses silêncios, por vezes amontoados nas vitrines digitais, tantos epitáfios, marcas de uma eutanásia dolorida, que mais que o verbo estrangula o ser e atira em cova rasa a pluralidade das identidades.
E assim, os sem- palavra vão avolumando o contingente dos sem-lugar; reforçando o cabedal dos latifundiários da voz e posicionamentos. E da palavra apropriada por uns, alojadas em improdutivos sótãos do poder, vão brotando os destituídos de espaço, os marginalizados do devir.
Repenso meus gritos, a inflexão das minhas orações, os atos de minha fala ... Se subordinam a quem?! Interconectam com quais outros discursos? E o que, juntos, dizem?! Calam outras vozes?! Mais que palavra solta é preciso ser elo, discurso liberto e construtor de espaços e posições, igualmente, libertárias e plurais.
¹ Conceito apresentado por Michel Pêcheux;
¹ Conceito apresentado por Michel Pêcheux;
Pók Ribeiro
* Texto nascido de reflexões sobre o atual cenário, a partir de provocações das aulas de Introdução à Sociolinguística - PPGESA/UNEB
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