Coelho de Alice no País das Maravilhas e seu relógio - Fonte: google images |
O compulsório - e avexado - findar dos ciclos vai nos ensinando que quanto mais esses se cumprem, mais o pouco basta. Se compreendermos uma partícula do grande mistério que é nosso trânsito por estas terras, perceberemos que nossa alma se agiganta à medida que a nossa gana pelas materialidades diminui. Ainda bem.
Mesmo que os números do manequim aumentem, que os ponteiros da balança se alarguem na tentativa de abarcar o peso, a gente descobre que não precisa mais de todas as roupas guardadas à naftalina. Bastam aquelas que gostam das nossas formas e respeitam nossos contornos. Ou melhor, qualquer nudez basta.
Num mundo onde os dicionários vão inchando e as pessoas falam - e mais- até pelos dedos, aposentando os encardidos cotovelos, a gente percebe que silenciar é salvador. A cada palavra não dita no tumulto das vozes e dos egos, a alma respira aliviada pela língua em repouso. [Uma menininha de olhos enormes me ensinou que a língua também precisa de descanso.]
Pouco me basta para ser feliz tanto. Quanto menos analgésicos empurro goela abaixo, mais sorrisos escancaro; mais versos espalho; mais sono; mais sonhos; mais luta. Quanto menos vejo o noticiário, menos sei das tragédias, menos vomito de nojo de todas as mentiras que a mídia vende.
De tão pouco precisar, agora, até meia dose me embriaga. Não preciso gastar tanto com cerveja, basta um copo e já estou sobrevoando os espaços entre o céu e os meus cabelos. Logo, estarei delirando ao pisar na tampilha.
De tão pouco precisar, agora, até meia dose me embriaga. Não preciso gastar tanto com cerveja, basta um copo e já estou sobrevoando os espaços entre o céu e os meus cabelos. Logo, estarei delirando ao pisar na tampilha.
Quanto mais me atiro, sem aparador, aos livros, mas entendo que pouco sei.
E enquanto esse ponteiro vai girando, embriagado, acelerando, menos tempo terei por aqui. É a única conta que me dei conta. Quanto mais vivo, mais morro para viver mais.
Pók Ribeiro
Pók Ribeiro
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