Engana-se aquele que se contenta em ser, num burocrático e insípido exercício da existência. Antes, faz-se necessário ter-se por inteiro - das entranhas aos pelos - num antropofágico ritual de devorar-se constantemente.
É vital engolir-se, paulatinamente, um tanto a cada dia - ou em tragos fartos - se assim se fizer inevitável. Comer-se, num rito liberto de quem sabe o quê e para quê é. Provar-se a fundo, estando disposto ao amargo ou à leveza do que em nosso âmago habita. Sentir-se em consciência plena, encarando as reentrâncias disformes, os fios energizados em perigo, os contornos fragilizados, a fim de evitar que o azedume se instaure, se espalhe e nos transforme naquilo que não pretendemos. A labuta de ser requer coragem para degustar-se e, principalmente, acertar os temperos interiores para não servimo-nos ao outro com gosto travoso ou demasiadamente adocicado.
Não há que se camalear os espinhos que lhes rasgam a pele, mas previnem ataques. Também não carecemos forjar uma flor que não se pretende ser/ter. Do contrário, é a nossa essência que nos torna especiais nesse Universo que mistura caos e luz. É ela que deve ser servida em brandura, seja aos de paladar apurado ou aqueles que não conhecem de sabores.
Assim, devemos ser completos na essência metafísica que nos compõe; levando, tanto se possa, o verso leve que falta, o silêncio cura ou palavra afago. Devemos, sempre, adstringir nossa alma das misturas desastrosas, do que destempera e causa azia. Só assim, não seremos propagadores dos dissabores, das amarguras e bolores.
Ser é um labutar constante que prescinde de coragem e de poesia, daquela pulsante, latente, que explode nas cores, nos braços, nos sons, no branco dos dentes que se desnudam sem esperar trocado. Ser é transcender aos limites, romper as caixinhas que prendem pessoas e engessam os versos. Ser é, antes de tudo, ter-se em harmonia, aceitando os contornos, os excessos, as discordâncias, mas, sobretudo, vigiando para não amargar-se.
Ser é um labutar constante que prescinde de coragem e de poesia, daquela pulsante, latente, que explode nas cores, nos braços, nos sons, no branco dos dentes que se desnudam sem esperar trocado. Ser é transcender aos limites, romper as caixinhas que prendem pessoas e engessam os versos. Ser é, antes de tudo, ter-se em harmonia, aceitando os contornos, os excessos, as discordâncias, mas, sobretudo, vigiando para não amargar-se.
Ser é ir das vísceras às pálpebras num verso diário e teimoso.
Erika Pók Ribeiro
Erika Pók Ribeiro
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