(...)
Ainda em tenra idade aprendera o valor dos monturos. Era lá, naquele universo grandioso, porém repudiado pelos grandes que se encontravam tesouros inigualáveis: cacos de pratos e xícaras com desenhos lindos, sandálias com salto arrancado, bonecas sem pernas... Preciosidades que só aqueles olhos infantis eram capazes de enxergar.
Foi numa manhã de sol brando - naquela época o sol não era tão perverso- e ventinho fresco soprando os cabelos lisos cheios de nós, que ela encontrou a bolsa azul. Era um azul tão lindo, o azul mais azul dos azuis que ela conhecia. Não era como o céu, nem como o vestidinho de gatinho que sua mãe fizera... Também não era como os olhos do seu avô. Era outro azul, sabe?
A tal bolsa tinha um cheiro diferente, estava meio ressecada, mas era linda! Tinha um botãozinho prata que ainda fazia tic-tic; mágico! E era só abri-la que lá vinham tantas histórias, amigos imaginários... E viajávamos por tantos mundos, cujo portal era o monturo.
Os grandes gritavam para que ela saísse do lixo, que ali só tinha porcaria, que poderia ficar doente, pegar lombriga... Que nada!! Como eram bobos... De certo nunca tinham encontrado jóias lá. Mas também, como encontrariam? Nunca tinham tempo para viajar por aquele amontoado de histórias.
(...)
Erika Ribeiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário