De repente,
depois de traçar infindas e ineficientes rotas de fuga, de construir calabouços
para proteger-se das intempéries e do amargo que delas goteja, você para
sobressaltado, e é coagido a compreender que a Vida é. E ponto!
Não há que se
seguir encardidas lições, manuais empoeirados de regras obtusas. Sem que se
perceba [ainda bem], tá posta a mesa e servir-se ou não, do que a Vida é,
pressupõe voos arriscados, renúncia do manso ninho. E quanto mais azuis forem
os céus e mais livres as asas, mais a Vida é e tu sedes com ela.
Sem deliberação
qualquer, chega o vento, senhor das asas, e nos leva para o ponto exato onde,
sem saber, deveríamos estar. Enquanto
nos conduz, a Vida é e só há duas saídas: aproveitar as delícias desse trajeto
ventoso ou procurar desnorteio de redemoinhos. E o remador, iludido das águas,
nem se dá conta que o barco é quem rema, que a Vida é quem leva para o cais ou
pro mar que salga.
Como se acordado
de um caminhar sonâmbulo, atordoado percebes que enquanto fugia do Inevitável,
em sua alma, ele se agigantava numa lentidão e teimosia da brisa que entardece
o azul. E, olhando em volta, perceberás que já não há mais um; é que a Vida, às
vezes, é dois que de tanto serem unificam-se no olhar que vidra, na mão que
dança, no Rio que transcende. Noutras, a Vida é apenas ela.
E sem aviso
prévio, já chega outro vento e te arrasta longe, mostrando enfim, que não há
tempo para saber/ser o que a Vida é.
Erika Ribeiro –
Pók Ribeiro
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