sábado, 18 de setembro de 2010

CRÔNICA II

(Imagem retirada do google)


DOS CONCEITOS


Ontem, enquanto conversava com um amigo de longas datas fui surpreendida com o que dele ouvi. Falava-lhe das minhas angústias, das dores físicas e d’alma que habitam em mim, dos fracassos que parecem avalanches e dessa sensação estranha de estar morrendo intimamente, um pouquinho a cada dia, enquanto o corpo finge estar vivo. Confidenciei-lhe minhas mazelas na remota esperança de ouvir uma daquelas frases de auto-ajuda ou, o que seria mais provável, um sacolejo daqueles que nos mandam à vida com a mesma pressa e força que a mãe nos manda levantar.
Qual não foi a minha surpresa quando me disse:
- Você está muito poética! Encara a vida!
De súbito não compreendi, passado o susto ainda ecoava em meus ouvidos “Você está muito poética ! Você está muito poética ! " Como poderia estar poética se falava de frustrações? Derrotas? Ele equivocara-se, definitivamente.
Hoje, em fria noite, o acaso faz-me erguer os olhos e redescubro a lua que há tempos não via. Só aí compreendi... De fato eu estava/ estou muito poética. A partir daí percebi o quanto são falsos os conceitos, como se camuflam em cada ser, em cada mundo, em cada lua! Ser poética é tão transcendental que chega a abranger os mais variados valores semânticos e humanos.
O ser em si já é infinito; e, a poesia; a poética, estado de graça de quem poetisa (até na dor) é tão incomensurável quanto estas dores que me encarceram e essa lua que se doa sobre mim.

Um comentário:

  1. Não vejo relação entre ser poeta e relatar mazelas. Poetizamos quando procuramos soluções que extrapolam o real, quando sonhamos sem saber q sonhamos, enfim, quando estamos em estado de graça ou desgraça e não neutros. Vc é poeta, mas nesse momento não foi

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