quarta-feira, 18 de março de 2015

Viver é mais fácil que esperar.




De repente, depois de traçar infindas e ineficientes rotas de fuga, de construir calabouços para proteger-se das intempéries e do amargo que delas goteja, você para sobressaltado, e é coagido a compreender que a Vida é. E ponto!

Não há que se seguir encardidas lições, manuais empoeirados de regras obtusas. Sem que se perceba [ainda bem], tá posta a mesa e servir-se ou não, do que a Vida é, pressupõe voos arriscados, renúncia do manso ninho. E quanto mais azuis forem os céus e mais livres as asas, mais a Vida é e tu sedes com ela.

Sem deliberação qualquer, chega o vento, senhor das asas, e nos leva para o ponto exato onde, sem saber,  deveríamos estar. Enquanto nos conduz, a Vida é e só há duas saídas: aproveitar as delícias desse trajeto ventoso ou procurar desnorteio de redemoinhos. E o remador, iludido das águas, nem se dá conta que o barco é quem rema, que a Vida é quem leva para o cais ou pro mar que salga.

Como se acordado de um caminhar sonâmbulo, atordoado percebes que enquanto fugia do Inevitável, em sua alma, ele se agigantava numa lentidão e teimosia da brisa que entardece o azul. E, olhando em volta, perceberás que já não há mais um; é que a Vida, às vezes, é dois que de tanto serem unificam-se no olhar que vidra, na mão que dança, no Rio que transcende. Noutras, a Vida é apenas ela.

E sem aviso prévio, já chega outro vento e te arrasta longe, mostrando enfim, que não há tempo para saber/ser o que a Vida é.


Erika Ribeiro – Pók Ribeiro

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