segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Então, é Natal?

Lapinha - Arquivo pessoal


Nesse estrebuchar dos tempos, liame infinito de prelúdio e saudade, dou-me ao direito de desanimar e chorar os umbus que a borboleta chupou antes de mim. Deixo-me, inteira, à liberdade do silêncio e das ausências por pura falta de ânimo e de fé nas pessoas sem fé. (E?)


Depois de tantos sapatinhos na janela, de pés crescidos e cansados, de caminhos trocados e casas mudadas, sem janela e sem vontade... Depois de portas silenciadas ao esfriar das cinzas do velho fogão de barro, já não escuto o badalar de qualquer sino - mudo, nem as cantigas desafinadas e risonhas que faziam belas as noites.

Mudamos.


E agora, sob o manto-sangue da luta dou-me à prerrogativa de estar em silêncio e comunhão com os borregos do presépio que se desenha, desde que a casa sorria e a ovelha sem juízo pelejava pra devorar o verde plástico da árvore destinada ao Natal.

Dou-me em presente a mim, banhada em alecrim da Lagoinha e despida de qualquer sentimento amargo ou que me tire o ar; já me bastam as insuficiências respiratórias que as poeiras dos calendários me deram.

Dou-me ao Universo, sem os rótulos nem medidas impostas pelas agências e institutos reguladores. Quem quiser que se autorregule. Dou-me assim, despida, carregando, apenas, as marcas que ele próprio me deu a cada riso, choro ou queda. Marcas de mim e das que em mim viveram - e vivem.


Dou-me inteira, com essa alma ainda assim remendada e os joelhos rôtos da teima. Assim livre, assim imperfeita, pronta pro refazimento de todo dia. Não dou-me à liquidação de ser tão somente hoje; serei sempre e Ele em mim.

Assim seja(mos)!

Pók Ribeiro






Nenhum comentário:

Postar um comentário