terça-feira, 10 de julho de 2018

O menos é mais: indagações dos ciclos findos - e abertos.


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Coelho de Alice no País das Maravilhas  e seu relógio - Fonte: google images



O compulsório - e avexado - findar dos ciclos vai nos ensinando que quanto mais esses  se cumprem, mais o pouco  basta. Se compreendermos uma partícula do grande mistério que é nosso trânsito por estas terras, perceberemos que nossa alma se agiganta à medida que a nossa gana pelas materialidades diminui. Ainda bem.

Mesmo que os números do manequim aumentem, que os ponteiros da balança se alarguem na tentativa de  abarcar o peso, a  gente descobre que não precisa mais de todas as roupas guardadas à naftalina. Bastam aquelas que gostam das nossas formas e respeitam nossos contornos. Ou melhor, qualquer nudez basta.

Num mundo onde os dicionários vão inchando e as pessoas falam - e mais-  até pelos dedos, aposentando os encardidos cotovelos, a gente percebe que silenciar é salvador. A cada palavra não dita no tumulto das vozes e dos egos, a alma respira aliviada pela língua em repouso. [Uma menininha de olhos enormes me ensinou que a língua também precisa de descanso.]

Pouco me basta para ser feliz tanto. Quanto menos analgésicos empurro goela abaixo, mais sorrisos escancaro; mais versos espalho; mais sono; mais sonhos; mais luta. Quanto menos vejo o noticiário, menos sei das tragédias, menos vomito de nojo de todas as mentiras que a mídia vende.

De tão pouco precisar, agora, até meia dose me embriaga. Não preciso gastar tanto com cerveja, basta um copo e já estou sobrevoando os espaços entre o céu e os meus cabelos. Logo, estarei delirando ao pisar na tampilha.

Quanto mais me atiro, sem aparador, aos livros, mas entendo que pouco sei.

E enquanto esse ponteiro vai girando, embriagado, acelerando, menos tempo terei por aqui. É a única conta que me dei conta. Quanto mais vivo, mais morro para viver mais.


Pók Ribeiro


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