sexta-feira, 27 de maio de 2016

Não me calo!

http://www.bloginforma.com.br/criadora-eu-nao-mereco-ser-estuprada-recebe-ameacas-estupro/


Súbito o silêncio!!
Aquele que, lentamente, dilacera a alma e vai envenenando cada artéria, destroçando as vísceras. Depois, um turbilhão em ascendência: o grito engasgado, a pele em repulsa, o nojo, a ânsia... A infeliz e eviterna certeza de que ser mulher dói, nessa nossa sociedade tão obtusamente patriarcal.

33 homens e seu poder fálico. 33 homens e sua dominação sobre o corpo e a vida da mulher/menina. 33 homens e a reprodução do que pensam sobre nós. 33 homens e o escancaramento da perversidade machista, opressora e mortal.  Porém, não foram apenas os 33, a eles se somaram, ferozmente, outros tantos de igual pensamento, cuspindo ódio, crueldade e falta de conhecimento pelas redes sociais. 

E os destroços de minha alma, o que ainda restava de estômago e ar nas veias se esvai, vou morrendo presa à angustia e a revolta. Eu não sinto a dor, o medo, o nojo da menina estuprada - apenas imagino - mas sinto um desespero que me toma por completa. Tenho raiva e convalesço.

E vejo, descrente, comentários que atacam as feministas, que zombam de sua luta e manifesto, que questionam equivocadamente porque elas não “protegeram” essa menina, porque “não estavam lá”. Sequer sabem o que é o feminismo; criam uma visão estereotipada e não se permitem aprender, pesquisar. Eles se tornam autossuficientes por terem um falo. Fico zonza... Noutro canto alguém culpabiliza a vítima, suas roupas, seu modo de viver, sua “prematura” vida sexual e outros disparates. Há ainda quem defenda a castração química para o estuprador, como acudiu um dia um abjeto Senhor que, outrora, também disse que não estupraria a colega parlamentar, porque ela não merecia e que, recentemente, homenageou um torturador e estuprador. Outros tantos absurdos se insurgem... Desisto de pensar. Está extremamente difícil viver por aqui. Parem! Não importa o ponto, eu descerei!

Por favor, acordem!!! Não basta punir os estupradores, no caso destes serem presos. Não! Não adiantará castrá-los. Exterminá-los. Eles já terão estuprado, assediado, torturado, ameaçado, antes disso. O mal às mulheres já estará feito. É necessário sim, falar sobre machismo, mostrar que ele mata!! É fundamental fortalecer o feminismo, ser “Maria Passeata” sim, porque o debate, a conscientização, o grito, a denúncia podem evitar que outros tantos deuses fálicos destruam vidas. Se o feminismo te incomoda, se as imagens e textões, sobre o assunto, também lhe incomodam, você precisa reavaliar-se urgentemente e, principalmente, ler sobre o tema; não as leituras de posts do facebook, ou as rasas descrições do Wikipédia, digo a leitura que engrandece, acrescenta, questiona, provoca.

O que dizer às meninas com as quais convivo todos os dias, que são assediadas no ônibus, na fila do lanche, nos corredores/salas da escola, na rua, que já podem ter sido vítimas de assédio/violência sexual em casa? Fico engasgada mais uma vez... Meninas, lutemos!! Denunciem! Gritem! A culpa não é de vocês, nunca! O corpo é seu!

E aos meninos? Meus queridos, se reavaliem, respeitem, evitem reproduzir as práticas ancestrais que tratam a mulher como objeto, não exponham suas intimidades, não compartilhem imagens/vídeos/boatos, não avaliem a mulher pelo corpo, roupa, batom, jeito solto ou quieto de ser. Sejam parceiros na luta pela liberdade e vida da mulher.

Por fim, cá da minha ânsia e tristeza, percebo que além de respeito ao corpo, ao modo de vida, à liberdade da mulher, necessitamos de leitura e interpretação textual para compreender elementos essenciais como: liberdade, igualdade, feminismo, “cultura do estupro”, machismo, patriarcado, opressão, etc.. O conhecimento  também liberta e salva!!

Uma fala de Rosa Luxemburgo pode abrir o caminho para o aprofundamento, no tema:
“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.”
 Rosa Luxemburgo (1871-1919)

De cá, peço ao Universo que apague as marcas da alma daquela menina (e de tantas mulheres); que abafe os sons grotescos que possam povoar seus ouvidos; que lhe devolva a vontade de viver e ser livre.
Eu choro...


Erika Pók Ribeiro




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